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“Inspirado por eventos reais” são as primeiras palavras que o público vê em “Winchester”, que abriu nos cinemas na sexta-feira, e essa é a frase mais perigosa no arsenal de qualquer cineasta. Ela fornece o suficiente de uma corda à realidade para fazer os espectadores pensarem que isso poderia ter acontecido, mas deixa muito espaço para, digamos, a licença artística.
Neste caso, os roteiristas Tom Vaughn e os irmãos Spierig (Peter e Michael Spierig também co-dirigiram o filme), embelezaram significativamente a já assustadora lenda de Sarah Winchester e sua mansão de San Jose em expansão. Aqui está um olhar sobre o que eles acertaram, o que foi inventado e o que vive algures na zona cinzenta entre a verdade e o mito. E considere-se avisado, há estraga-filmes à espreita:
– A Casa Mistério Winchester é, claro, real. Começou como uma casa agrícola de oito quartos comprada por Sarah Winchester após ela se ter mudado para a Califórnia em 1884. No ano após a sua morte em 1922, foi aberta ao público para visitas guiadas e continua a ser uma curiosidade arquitectónica desde então. Possui 161 quartos, 13 banheiros e três elevadores. O filme é ambientado em uma época em que a famosa casa ficava em uma área rural, pomar. Hoje está rodeado por centros comerciais movimentados Westfield Valley Fair e Santana Row.
– As famosas “escadas que não levam a lugar nenhum” apresentadas de forma proeminente no filme são reais e uma parte popular da excursão. Eles não são, no entanto, tão centrais para a casa como o filme faria você acreditar.
– Um dos primeiros personagens que conhecemos, o sobrinho-neto assombrado de Sarah Winchester, Henry, não existia. A sobrinha da Sarah, Marion Marriott, não tinha um filho. Ela e seu marido adotaram uma filha, mas isso foi depois da linha do tempo do filme.
– Os lindos vitrais retratados nos minutos de abertura do filme com as inscrições crípticas “Wide Unclasp the Tables of their Thoughts” e “These Same Thoughts People This Little World” são reais. Eles são colocados no grande salão de baile da casa e as inscrições são linhas de “Troilus e Cresida” e “Ricardo II” de Shakespeare. Porquê essas palavras? Ainda um mistério.
– Os passos “easy riser” ainda são uma característica popular na Winchester Mystery House, e foram instalados por causa da artrite da Sra. Winchester, que lhe permitiu levantar os pés apenas alguns centímetros.
– Marion Marriott, sobrinha de Sarah Winchester que viveu com ela e agiu como secretária, era uma pessoa real. Mas Marion, cujo apelido era “Daisy”, saiu antes de 1906 – quando o filme está pronto – para se casar com Frederick Marriott (sem relação com o pessoal do hotel). As circunstâncias trágicas que a trazem para a casa no filme são inventadas. Ela herdou, no entanto, a maioria dos pertences da Sra. Winchester após sua morte em 1922.
– Durante sua vida surgiram lendas sobre Sarah Winchester ser uma mulher reclusa que usava um véu para esconder seu rosto. Mas o máximo que pode ser dito com precisão é que ela era uma pessoa privada. Existem poucas fotografias dela.
– Muitas das conveniências de “alta tecnologia” existiam na casa, que tinha a sua própria canalização e alimentação eléctrica. A casa também tinha muitas outras inovações – como um conservatório com pisos removíveis para que a água pudesse ser drenada dela – que não constavam do filme.
– Winchester Repeating Arms de fato se ramificou em bens domésticos, incluindo patins de rodas, que desempenham um papel no filme. Mas isso não aconteceu até quase 20 anos depois do filme ser rodado, e é improvável que Sarah Winchester tenha participado dessas decisões.
– William Wirt Winchester, marido de Sarah, morreu de tuberculose em 1881 e o casal perdeu um filho, Annie, na infância, em 1866 – não tão perto uns dos outros como o filme implica. A visita posterior de Sarah a um espiritualista há muito tempo faz parte da tradição Winchester, mas não há registro de que isso tenha acontecido. Se você quer um relato menos suspenso mas mais preciso da vida de Sarah Winchester, leia “Captive of the Labyrinth” da historiadora Mary Jo Ignoffo, que leciona no De Anza College.
– Sarah Winchester era dita obcecada pelo número 13. No filme, ela o chama de “número divino” e usa 13 pregos para selar os espíritos nos quartos da casa. Certamente há muitas ocorrências do número 13 em toda a mansão, que os guias turísticos da Winchester Mystery House lhe indicarão. Mas você poderia simplesmente apontar isso para o preconceito de confirmação. Se você procurar pelo 13, você encontrará 13.
– O massacre no escritório Winchester Repeating Arms que figura no enredo nunca aconteceu, e a mansão Winchester – tanto quanto sabemos – nunca foi uma estação/prisão de caminho para fantasmas. Há, no entanto, uma fotografia tirada no ano passado que o pessoal da Casa Mistério Winchester tem mostrado que tem uma figura fantasmagórica em uma das janelas da mansão. Então, para ficar do lado seguro, vamos chamar isso de mito e seguir em frente.
– O terremoto de São Francisco, que sacode as coisas nas cenas de clímax do filme, aconteceu em 18 de abril de 1906, como o filme retrata. Os danos à casa Winchester foram graves, com os três primeiros andares da então torre de sete andares a ruir. Muitas partes da casa foram consideradas perigosas demais e seladas após o terremoto. Entretanto, o verdadeiro terremoto ocorreu às 5:12 da manhã, não perto da meia-noite como o filme implica, e não foi – tanto quanto sabemos – causado por um fantasma vingativo.
-John Hansen, o capataz da mansão Winchester, com bigode, interpretado por Angus Sampson, era outra pessoa real. Mas ao contrário do seu homólogo do filme, Hansen não morreu no terremoto e serviu como braço direito na casa até a morte da Sra. Winchester.
– Mesmo com 1,80 m, a atriz Helen Mirren teria se sobreposto à verdadeira Sra. Winchester, que tinha 4-10 anos e provavelmente se abaixou um pouco por causa de sua artrite.
“É uma casa muito especial, não é?” A Winchester da Mirren diz no filme. E isso é definitivamente verdade. Então, se “Winchester” o filme te inspira a visitar a casa verdadeira, por certo que sim. A mansão e seus terrenos são belos exemplos da arquitetura vitoriana e há uma série de elementos de design estranhos e interessantes. Mas até agora, não há fantasmas – a não ser que, como aquela figura fotografada numa janela, eles só estão a dar o seu tempo para que a tela prateada venha a chamar.