(música jazzy para piano) – Estamos na igreja de Santa Maria del Popolo, em Roma, e estamos olhando para um dos quadros mais famosos de Caravaggio. Esta é A Conversão de Saul. – E este é um dos dois quadros que Caravaggio pintou aqui na capela chamada Capela Cerasi, nome da família Cerasi, e, na verdade, Tiberio Cerasiis enterrado aqui nesta capela. – O quadro mostra uma história importante, mostra Saulo, que tinha como função perseguir os cristãos, e ele estava a caminho de Damasco quando estava cego de luz e ouviu uma voz. – E essa voz, a voz de Cristo, disse-lhe, Saulo, Saulo, por que me persegues? E, Saulo ficou cego durante três dias. – Agora, isso sim, porque Cristo estava em seu túmulo por três dias antes de ser ressuscitado e Jonah, no Antigo Testamento, permaneceu no peixe, que é muitas vezes chamado de baleia, por três dias. – Portanto, existe esta tradição do Antigo Testamento que remonta a três dias na escuridão, antes de ser salvo pelo divino. – E, isso coloca Saulo, que se chama Paulo, nessa tradição que sai do Antigo Testamento. – Então, aqui, só vemos essa força divina sobrenatural como uma inundação de luz sobre Saulo. Ele caiu do seu cavalo. – Caravaggio tirou tudo o que não é essencial. Ele criou figuras monumentais que enchem a moldura da tela. Ele as empurrou para frente e as colocou contra este fundo profundo e escuro, assim, quando os elementos são iluminados, eles se destacam contra este fundo. – O rosto de Saul é o único rosto aqui que está iluminado. – Enquanto o noivo parece nem reparar no que se passa. – E é isso que torna tudo ainda mais pessoal, que é apenas Saul que ouve a voz de Deus. Então, esta escuridão que se instalou, sem arquitetura, sem paisagem, thistenebroso, este estilo sombrio, talvez derivado da arte de Leonardo da Vinci, mas aqui levada até aqui por Caravaggio e esta escuridão eliminando tudo o que poderia nos distrair deste momento incrivelmente poderoso. – É sinterizante pensar porque é que isto está a acontecer neste momento particular, na viragem do século XVII. – Então o naturalismo que vemos aqui, a forma como estamos chegando lá, a sujeira no chão, a figura do noivo, que está cuidando do cavalo, parece um homem que Caravaggio provavelmente pediu para ser modelo para ele que ele conheceu em Roma, e que o naturalismo é parte desse interesse na legibilidade, na clareza na arte que sai da Contra-Reforma. – E, especificamente, fora do Conselho de Trento. A ideia era que a pintura pudesse ser didáctica. Uma das questões que Luther e outros protestantes levantaram foi se era ou não correto ter pinturas, e o Concílio de Trento falou diretamente a isso e disse, sim, que as pinturas tinham um valor didático importante dentro de um contexto religioso. – E, é realmente interessante comparar isto com a primeira versão desta pintura, que aparentemente foi rejeitada pelo patrono, onde vemos uma narrativa. Aqui, embora tenhamos a sensação de um momento apanhado no tempo, o que temos é uma condensação, uma destilação desse momento de conversão pessoal que foi muito popular entre os artistas barrocos. – Se estivéssemos olhando para uma pintura renascentista, seria um momento mais público. As figuras existiriam num espaço mais racional. Mas, aqui, quase parece que temos uma vista privilegiada, privada. A capela em si é um espaço estreito. – E o espaço da pintura é limitado, as figuras ocupam lado a lado, de cima a baixo, com espaço para verylittle room to spare, e Caravaggio está definitivamente a pensar na nossa vista aqui, enquanto nós estamos nesta capela e olhamos obliquamente para cima e para o outro lado do quadro. Saul parece cair na nossa direcção. – No Renascimento, a idéia era criar um senso de harmonia, um senso de equilíbrio. Aqui, tudo isso é levantado. Isto é precário, parece fugaz. O centro de gravidade é alto, em vez de baixo. A maior e mais maciça parte deste quadro é o corpo do cavalo e está no topo. – E, abaixo dele, Saul parece muito vulnerável, o casco do cavalo está levantado, o capacete de Saul caiu de sua cabeça. Há este sentimento de fragilidade de um ser humano confrontado com o poder do divino. – Saul é soclose para nós e parece tão real, que ele jaz na terra nua. – E, seus joelhos estão para cima, suas pernas estão abertas, seus braços estão abertos. – Seu corpo é na verdade um triângulo, mas é levantado e onde o Renascimento se preocupava muitas vezes com composições parameatais, com a criação de uma pirâmide estável. Isto é virar essa pirâmide para cima no seu ponto. – E, há tanta premonição aqui, não só o corpo de Saul é premonicionado, sua espada é premonicionada, o cavalo é premonicionado. E, portanto, tudo está tão próximo de nós. Na Renascença, muitas vezes vimos uma distância entre o mundo dos seres humanos e o reino do divino. – Mas, aqui o Saul está presente, é o nosso mundo. (música jazzy para piano)